segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Tinha regressado do Iraque cansado por dentro e por fora. Não tinha sido apenas mais uma missão, esta cravara-se fundo nos alicerces de mim e tinha-me corroído as bases. Necessitava de algo que me motivasse e me redireccionasse no sentido da alegria de viver. Foi assim que me voltei a inscrever no inacabado curso de Ciências da Comunicação da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL). Pobre curso, sempre mutilado pelas múltiplas missões no estrangeiro, sempre relegado para ultimo plano quando confrontado com elas…
Numa das cadeiras e ao analisar uma prosa minha, um dos professores lançou-me o repto:
- Senhor Barreto, acho que escreve bem, foi o segundo Comandante da primeira missão no Iraque, a mais arriscada das missões de Portugal nos pós guerra colonial, ninguém ainda escreveu nada sobre isso… porque é que não considera escrever um livro?
Agradeci a cortesia, sorri encavacado e sai sem mais pensar no assunto Ora se eu estava ali precisamente para apagar o Iraque do registo sinistro do meu subconsciente, só faltava aterrar, vindo do nada, esta proposta. Bom… o professor não tinha a culpa de não saber as minhas motivações, dores e anseios.
Os meus colegas de carteira foram chamando a conversa à liça o que, primeiro devagarinho, depois como que aumentando o potenciómetro do volume, foi despertando o bichinho da criação. O assunto começou a fluir, desceu do éter e fez-me comentar o tema em casa, e, depois no seio da GNR.
Para meu espanto, todos me incentivaram e acarinharam e este manuscrito começou a ganhar forma.
Na UAL as ideias iam sendo discutidas entre professores e colegas e a conclusão final foi de que a obra tinha de ser diferente. Não interessava mais um relato monocórdico de uma missão, ou mais um livro recheado de linguagem puramente militar, só acessível a quem dominasse a matéria. Tinha de ser um registo fiel mas, e ao mesmo tempo, uma obra biográfica, onde o autor se expusesse na sua plenitude e onde o leitor pudesse mergulhar, vestindo a pele do escriba, percepcionando assim mais de perto e melhor quem lhe estava a contar aquela história.
Interessava também demonstrar que um GNR das forças especiais não é mais do que um homem normal, carregado de defeitos como o comum dos mortais, que apenas escolheu uma vida diferente.
As ideias começaram a fugir da mente para o papel e o manuscrito começava a ganhar forma. Depois cresceu, alimentou-se dos vários contributos de amigos, colegas e camaradas de armas e começou a desenhar o formato com que se queria vestir...

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